domingo, 26 de maio de 2013

Igual João-Bobo

   Sabe aquele boneco? Aqueeele que alguns têm quando criança, que a gente fica dando porrada nele, chute, cotovelada, e nada dele cair? O "tal" do João-Bobo é mesmo um boneco forte. Equilibrado, seria a palavra certa. Ele concentra as forças dele num ponto de forma que nada consegue derrubá-lo. Ou melhor: derrubá-lo por muito tempo. Passados alguns instantes, lá está ele de novo, com a mesma cara de bobo. Bobo? De bobo ele não tem nada.
   Quem me dera ser assim como um João-Bobo. Uma "Joana-Boba", talvez? Tem dias que tudo conspira para você cair, desistir, não levantar nunca mais. De súbito, vem uma força, algo te puxa pra cima e então, você sobe. Não me sinto uma fortaleza, tenaz, rígida, difícil de desabar. Muito pelo contrário, desabo até fácil. Sinto-me estressada, mal-humorada e já ponho-me a chorar. É o meu jeito de cair. Contudo, passado algum tempo, retorno ainda mais forte, experiente.
   Depois de algumas porradas as coisas parecem que vão ficando mais fáceis, né? Pura ilusão. A gente é que se acostuma com elas. Aprendemos a lidar com as situações e a nos proteger. E a cada vez que caímos, somos treinados a levantar um pouquinho mais rápido do que da vez anterior. Acredito que seja uma recompensa; uma espécie de bônus que ganhamos e acumulamos. E então, como nos jogos, vamos recebendo "vidas", novas "armas" e demoramos mais pra morrer. O famoso "game over" custa para aparecer e, assim, sentimo-nos melhores, mais capazes. "Que apareça o chefão, o mais poderoso,  o mais cruel, eu o derrotarei!"- pensamos.

   Pena que, ao contrário dos video-games, a vida não ofereça uma opção "play again"; em que voltamos ilesos e temos a possibilidade de enfrentar os mesmos vilões, tendo tempo suficiente de buscar novas estratégias, alternativas. Na vida, dificilmente temos uma segunda chance e quando a temos, jamais será como a primeira vez. Sendo assim, como uma "Joana-Boba" que sou, espero ser capaz de continuar levantando após ser derrubada e, ainda, tirar proveito das marcas de porradas e chutes. Quem sabe eu não consiga encará-las como bônus?

Joana Borges (Perdidos)
  

terça-feira, 21 de maio de 2013

Turistando

   À noite, ao andar pelas ruas da capital paulista, divago e, com sorte, perco-me em meus próprios pensamentos. Tanto que, por muitas vezes, distraí-me e cheguei a esbarrar nos tantos outros que comigo dividiam o estreito espaço entre os bares e a rua ainda movimentada. Ouço gargalhadas, sinto o cheiro forte do cigarro, o mesmo que gruda nos meus cabelos à noite e obriga-me a lavá-los, secá-los, penteá-los. Depois do trabalho sentam-se nas mesas dos bares e conversam; conversam alto e bebem. Não importa se é segunda-feira ou sexta à noite. Os bares de São Paulo estão lotados.
   De repente, ouço algo que muito difere-se da minha língua pátria e olho curiosa em busca do autor daquela fala, daquelas estranhas palavras que tanto me alucinam e me envolvem. Mas, mesmo antes de qualquer descoberta, escuto outra frase estranha, perdida em meio a muitas outras. Encantador é esse sentimento que me invade o peito e com saudosismo traz as melhores lembranças. As viagens com os mais recentes melhores amigos que já tive, a *Freiheit que jamais nos abandonou. Como gostávamos dessa palavra, para mim a mais bonita, ao mesmo tempo que a mais enigmática dentro do dicionário alemão que para todos os lugares carregávamos.
  E se não fosse pelas sacolas de compras que eu carregava com esforço enquanto seguia para o apartamento o qual, com relutância, chamava de "casa", pelo corpo ainda suado da academia, e  pela mente ocupada por afazeres acadêmicas e domésticos, eu até poderia me sentir turista de novo.
  Inesquecível o dia em que, sentados em um bar irlandês em meio a Red Light District, "jogávamos conversa fora"e distraíamos com as luzes e desfrutávamos da tentadora cidade holandesa. Até chegado um momento em que, de súbito, tive certeza de que faria turismo na faculdade. Era chegado o fim de tanta angustia por não saber o que prestar no vestibular. Tamanha euforia consumia-me que cheguei ao ponto de chorar. Não sei se por alívio ou por causa da cerveja irlandesa que bebi. Provável que pelos dois motivos.
  Entretanto, ao amanhecer o dia, já tinha desistido da minha ideia. Convinha-me, era verdade, viajar, conhecer lugares nunca antes visitados. Mas a minha real vocação era ser turista, não guia. Gostava de ver pelos meus próprios olhos e queria que tantos outros assim o fizessem. Nada pode ser mais bonito que o próprio olhar, que atribui beleza às paisagens, às obras-de-arte, aos personagens da vida; e que com outros não poderia ser jamais comparado. Sendo assim, revivo as antigas lembranças, revejo fotografias, releio antigos diários e anseio pela próxima viagem turística.  


* em alemão, liberdade.



Joana Borges (Perdidos)

quarta-feira, 15 de maio de 2013

Not Like The Movies


Hoje eu me perdi. Me perdi em pensamentos. E por isso quase perdi o ponto certo do ônibus. Vim pensando que eu realmente não moro mais com meus pais, moro em outra cidade... A típica história da menina do interior que vai para a cidade grande. Clichê.
Para se tornar como qualquer história mel com açúcar tenho que conhecer pessoas novas e incríveis, fazer inimigos, me apaixonar, dar tudo errado, e enfim dar tudo certo. É, mas a vida não é um filme. São Paulo não é Nova York. Não vou receber uma declaração de amor no meio da Av. Paulista com pessoas cantando e dançando. Não irei conseguir o melhor estágio no melhor jornal da cidade.
É, mas não custa nada sonhar.

“Just a small town girl, living in a lonely world...” (pelo menos esse filme já tem trilha sonora…)

Cami Gregori

quarta-feira, 1 de maio de 2013

eu, paulistana.

Pluralidade. Diversidade. Em relação a minha pré-conceituosa declaração de São Paulo, nada mudou. Eu continuo a achar que a Pauliceia tem de tudo. Ou pelo menos, quase tudo. São móveis que você procura? Pff! Essa é fácil! Tem uma rua só disso.. Instrumentos musicais ? Passa na Theodoro Sampaio, em cinco minutos eu prometo que você monta a banda inteira. E por aí vai...
Impressiona-me, até hoje, a diversidade que é São Paulo e o que ela faz comigo. Aqui tenho vontade de ser tudo ao mesmo tempo. Aos sábados, saio da aula de teatro convicta de que serei atriz. Faço planos, economizo, pesquiso cursos profissionalizantes...e esqueço. Ou melhor, guardo os pensamentos para o próximo sábado. Na academia quero ser saudável, cuidar do corpo,virar atleta. E se fico bonita em alguma foto, logo me sinto uma modelo. Mas ao abrir o pacote de cookies, logo esqueço.
Em casa, sou faxineira, cozinheira, lavadeira...Chamem do que quiser, aqui sou mãe, irmã, mulher. E, ao voltar da faculdade, o que eu mais quero é ser jornalista. Uma verdadeira formadora de opinião e de futuros heróis. Juro a mim mesma que lerei um milhão de livros, escrevê-los-ei. E, já cansada, esqueço. Sento na cadeira da escrivaninha e escrevo textos que talvez só eu mesma lerei. Como este aqui. E embora assim o seja, quero ser blogueira; daquelas que possuem milhares de acessos diariamente, são lidas e se fazem ouvir; possuem um estilo próprio e que, acima de tudo, amam os próprios textos. E então chega a "famosa" Falta de Inspiração e logo esqueço. Ao final do dia descubro minha verdadeira vocação: Princesa.
Entretanto, admito que sou exigente. Da Branca de Neve nunca gostei muito; a Rapunzel passa a vida inteira presa numa torre e a Cinderela só trabalha.. Nada mau seria morar com fadas, dar uma pausa na vida dormindo por alguns anos e só acordar quando o príncipe perfeito aparecer. A Bela Adormecida que "abra o olho" ou eu tomarei o lugar dela. Ou não. Amanhã já sei que a ideia vai ser outra e o meu teste vocacional vai dizer outra coisa.
Por agora, o que eu quero é dormir tranquila. Aquietar minhas ambições, acalmar as emoções para, quem sabe, sonhar. Sonhar com a Joana princesa, a Joana jornalista, a Joana atriz, a Joana atleta, a Joana plural, diversificada, paulistana.

Joana Borges (Perdidos)