quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Coisas que só São Paulo faz por mim

É inquestionável o fato de que São Paulo tenha mudado a minha vida. Eu sei que mudou, eu vejo e, sobretudo, eu sinto na pele as mudanças que a Pauliceia faz em mim.
Seis meses vivendo a loucura que é São Paulo, posso dizer, sem hesitar, que sou louca como ela é. Carrego no corpo emoções inexplicáveis, que se colocam umas sobre as outras como se disputassem um lugar em mim. E a minha mente, sem força para lutar, as deixa entrar; como alguém que recebe uma visita na hora do cansado, no momento mais inoportuno do dia. Mas, por educação ou fraqueza, abre a porta e lhe oferece um café, um pedaço de bolo.
Por mais que não sejam bem-vindas, eu alimento essas emoções. Apesar de fazerem sofrer, eu não consigo expulsá-las, e ainda as fortaleço com meus pensamentos. Por que então eu continuo fazendo isso? Promovendo essa luta de emoções dentro de mim? Por que, simplesmente, não parar de alimentá-las e as deixar morrer? Mas eu não consigo.
Não tenho dúvidas de que a vida seria muito mais tranquila e feliz se eu não pensasse tanto no que fazer dela; se eu não me preocupasse tanto em ser feliz. Mas como no medievo, que as pessoas viviam para uma vida após a morte, eu vivo pelo amanhã.
Entristece-me admitir, mas eu sei que é verdade. Afinal, por que eu estou há seis meses morando em São Paulo, apesar de estar sempre desejando a volta pra casa?
Sei que é o melhor para minha profissão. Sei que no futuro colherei os frutos dessa experiência. 
E então, agarro-me em cada oportunidade; e espero o futuro chegar.
Enquanto isso, vou me envolvendo em coisas que distraem a cabeça, aquietam meus pensamentos, acalmam a alma. Vou regularmente à academia, converso, brinco, cuido do corpo; Aos sábados, faço teatro e, por duas horas, finjo ser alguém que está longe de ser eu mesma. Entro na personagem e, finalmente, esqueço de mim. À noite, saio. Vejo um filme, danço, vejo gente. E na balada, me acho linda de batom vermelho.
São Paulo é a minha loucura e a minha ambição. Aqui sou tudo e nada ao mesmo tempo. A ela atribuo minha inspiração, meu desespero. A ela dedico toda a minha alta e baixa autoestima; e nela despejo a culpa pela minha insônia e o meu cansaço.
Para mim, a pauliceia é mais que uma cidade. É um sistema, um organismo vivo. Pulsante, pensante, faminto. São Paulo se alimenta do meu suor, do seu suor. Quando fraquejamos, ela vem no dar um tapa na cara; e quando vencemos, ela se alimenta da recompensa.
É chegada a hora. A mente já cansada chama pelo sono, que não vem. Ao invés dele, invadem-me os pensamentos, as emoções, a saudade, a tristeza, o medo, a solidão. "Desculpe, outro dia você vem me visitar, preciso dormir agora. Espero que tenha gostado do bolo." E, mais uma vez, volto pra cama.




Por Joana Borges (Perdidos)

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