segunda-feira, 11 de março de 2013

Sonho de um meio-dia de verão

Você está parada no farol, esperando aquele homenzinho verde dar o ar de sua graça. É meio-dia na Paulista e os carros passam, rindo da sua pedrestês. Do outro lado da rua, seu ônibus acaba de passar. Você suspira.


 – Boa tarde. Você tá bem?

Você ergue os olhos e encontra outros olhos erguidos para você. Você agarra a bolsa, instintivamente, e olha para trás. Será que esse cara vai te assaltar? Será uma pegadinha?

 – É... tô...  – os carros continuam rindo. Os olhos sorriem também.

É um rapaz. Vinte, vinte e cinco, no máximo. Entre todos os carros e pessoas e vendedores e helicópteros e relógios e ônibus e outros polissíndetos, ele parou para perguntar como você estava. É isso que surpreende. Porque, você percebe, faz muito tempo que ninguém para pra perguntar como você está. Bom, perguntam, mas depois querem te vender alguma coisa. Ou te assaltar. Ou pedir para que você passe o telefone para a sua mãe.

A verdade é que, em São Paulo, é difícil alguém reparar em você. Sampa, a cidade que não dorme, a cidade que há muito tempo não garoa sua garoa, não dá a mínima pra você. E você sabe disso. Daí seu medo instintivo. Daí sua dúvida. Faz tanto tempo que estamos sozinhos, faz tanto tempo que estamos juntos...

 – Legal.  – o moço sorri  – toma cuidado, tá muito sol.

Ele se vira e vai embora. E você fica olhando enquanto ele se afasta, como num filme em câmera lenta. O vento brinca com seus cabelos.

E os carros da Paulista continuam rindo.

Helô Pereira (Perdidos)

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